Amyr Klink: viagem do navegador que atravessou o Atlântico a remo até a Bahia faz 40 anos

Amyr Klink: viagem do navegador que atravessou o Atlântico a remo até a Bahia faz 40 anos

Cem dias sozinho entre o céu e o mar. Sete mil quilômetros da África à Bahia em um barco a remo. Vinte e duas tempestades. Incontáveis tubarões. Oito horas por dia remando. Uma mão lesionada e vinte quilos a menos. Essa é a história da travessia pelo Atlântico Sul realizada por Amyr Klink, o explorador brasileiro que, há 40 anos, chegava ao litoral da Bahia.

Klink não era navegador. Era apenas um jovem economista de 28 anos que se interessava pelo mundo das aventuras pelo mar e gostava de estudar os casos de quem já fez esse passeio. Mas, ao invés de ler as histórias de sucesso, lia as de fracasso, e de como os navegadores não completaram a viagem por erros de planejamento, equipamento e dieta.

Juntando os erros de todos os que vieram antes dele em uma coletânea de 70 páginas de histórias sem final feliz, ele se lançou ao mar no porto de Luderitz, na Namíbia, no dia 12 de junho de 1984. Foi assim que, sem experiência alguma em navegar ou formação como explorador, ele foi o primeiro a completar o caminho entre os dois continentes.

A partida

A saída já começou tão turbulenta quanto todo o resto da viagem prometia ser – uma tempestade intensa fez com que o governo de Luderitz só liberasse a partida com a assinatura de um termo por parte do navegador. No documento, ele afirmava que Luderitz não tinha responsabilidade alguma sobre ele, abrindo mão até mesmo do direito a resgate caso necessário. Navegador de primeira viagem – e completamente sozinho.

Três militares antes dele haviam morrido tentando o mesmo trajeto. A África do Sul buscou os três por anos e nunca os encontrou. 

Se já não fosse suficiente, o corpo de Klink tinha seus próprios desafios. Três anos antes, um acidente que cortou seu pulso com vidro o obrigou a fazer uma cirurgia na mão direita. Na época, uma seguradora o classificou como inválido, por conta das sequelas e falta de sensibilidade do membro. Para ele, o desafio se tornou solução – quando perguntado sobre sua mão, Amyr diz que a pouca sensibilidade foi boa, porque assim, foi a parte do corpo que menos doeu no trajeto.

Ele mesmo contou que, no início, quando começou seu planejamento três anos antes de embarcar, ninguém acreditava. “Achavam que eu era maluco, aventureiro”. Mas o preparo foi grande. O planejamento para uma viagem de 105 dias, terminando no seu aniversário, em 25 de setembro, deixou sobras quando ele chegou ao seu destino em apenas 99, quase uma semana antes. A programação foi perfeita e seguida à risca. Para ele, “com um projeto bem elaborado, se controlar o medo, qualquer pessoa pode fazer o que eu fiz”, disse ele ao CORREIO na semana da sua chegada. 

Ele levou uma grande quantidade de água doce, para garantir os três litros diários, o que pesava o barco. Atualmente, a viagem conta com dessalinizadores, que garantem uma redução de mais da metade do peso na embarcação.

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