Bela Gil: ‘O povo brasileiro está morrendo pela boca’
“A única resposta que a gente tem é ultraprocessados, porque são produtos palatáveis, gostosos, fáceis de fazer, não demandam muito acesso a outras necessidades básicas como água, por exemplo. Você só abre o pacotinho e come, não precisa cozinhar um feijão, por exemplo. E são muito baratos”, explica a especialista em alimentação saudável em entrevista ao programa Bem Viver desta segunda-feira (26).
Há três anos, a chef de cozinha abriu o restaurante Camélia Òdòdó, localizado na Vila Madalena, em São Paulo (SP), que proporciona o circuito curto do alimentos, ou seja, prioriza a compra dos ingredientes do menu de pequenos produtores que plantam de acordo com ciclo da natureza e respeitam condições de trabalho dos agricultores e agricultoras, explica Bela Gil.
Desde que começou sua carreira como personalidade pública, a cozinheira vem desafiando os costumes e paladares da população ao mostrar outras formas possíveis de cozinha, que, segundo ela, são resgastes da nossa “memória ancestral”.
A chef defende que essa é a única maneira de evitarmos dezenas de milhares de mortes que acometem anualmente a população brasileira por conta de má alimentação.
“Não basta a gente falar da fome e falar de quantidade de alimentos. A gente precisa falar da qualidade dos alimentos, porque hoje eu costumo dizer que as pessoas estão morrendo pela boca: ou por falta de comida, pessoas com desnutrição, pessoas em segurança alimentar grave, pessoas realmente passando fome; e, ao mesmo tempo, porque estão comendo ultraprocessados em excesso”, explica.
“Saiu um estudo recentemente mostrando que 57 mil pessoas morrem por ano devido ao consumo direto de produtos ultraprocessados, então a gente entende que não basta mais falar só de acesso à comida, tem que ser uma comida de qualidade.”
Sobre isso, Bela Gil compartilhou uma receita ao longo da entrevista: um creme de manga e inhame que ela faz e é sucesso entre os filhos.
“Então é inhame cozido, batido com manga, gengibre e você pode colocar outras especiarias. Não precisa nem adoçar quando a manga está bem docinha, e fica um creme muito gostoso”, explica. “E isso diz muito, diz muito, porque a gente sabe quem é que cultiva o inhame. A gente não tem um latifúndio de inhame. A gente sabe quem é uma produção campesina, uma produção, muitas vezes, agroecológica”.
Na entrevista, Bela Gil defende também uma “redistribuição do trabalho doméstico” para não sobrecarregar mulheres, uma reflexão sobre essa cultura e também mais apoio a política públicas de fomento à alimentação.
Share this content: