Campo em Debate aborda agricultura familiar e mudanças climáticas
Enchentes e secas serão mais recorrentes, e serão necessárias mais iniciativas de preservação ambiental com os produtores rurais do Estado. Em linhas gerais, essa foi a temática de um dos painéis do Campo em Debate, iniciativa do Grupo RBS em parceria com a Fiat, que reuniu importantes nomes do agronegócio no Parque Assis Brasil, durante a 47ª Expointer, em Esteio. Esta ação faz parte da campanha Pra cima, Rio Grande.
Realizado na Casa RBS, o debate “Agricultura familiar e mudanças climáticas” contou com a medição da jornalista Gisele Loeblein. Participaram profissionais de diversos segmentos que fizeram diagnósticos e apontamentos em torno do tema.
O presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS), Carlos Joel da Silva, apontou que as mudanças climáticas podem até estar sendo discutidas, mas pouco tem sido colocado em prática. Para ele, é preciso criar um pacto de boas práticas para o meio ambiente.
– As enchentes e as secas não irão parar. Temos que preparar os produtores rurais por meio da assistência técnica e do manejo dos alimentos, com foco no ambiental. É preciso mais ajuda das prefeituras, dos governos do Estado e Federal, das universidades e das entidades – salienta.
Já o diretor fundador da Kaz Tech e doutor em desastres naturais, Marcos Leandro Kazmierczak, trouxe observações a partir de fontes de pesquisas. Uma delas aponta que, nos últimos 30 anos, houve cerca de 65 mil eventos climáticos no Brasil. Destes, 8,2 mil aconteceram no Rio Grande do Sul, sendo que o que mais cresceu foram os meteorológicos (granizo, vendavais e ciclones), com 476%.
Outra análise foi sobre o que deve acontecer até 2040. O volume de chuva anual no Estado deve aumentar em todas as cidades, o que inclui precipitação diária extrema, máximo de dias secos consecutivos e dias muito quentes.
– Até 2040, deve chover 100 a 200 milímetros a mais do que chove atualmente, principalmente no Vale do Taquari – alerta.
Já o professor do Departamento de Sociologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Sérgio Schneider, ressaltou as “policrises” ou as “múltiplas crises”. Consiste em uma combinação climática, demográfica e de transição energética, o que acarreta em perda de biodiversidade e aumento de emissão de gases.
– É uma crise que determina uma outra, um ciclo. É algo diferente de toda a história da humanidade – pontua.
Schneider acredita que os produtores rurais podem, primeiramente, entender estas crises para que, depois, possam procurar reduzir a exposição de riscos, ter fundos de reserva e patrulhas rurais.
– Criei meu sistema, que é o 3D. Diversificação do sistema produtivo, distinção de cada família e diferenciação das paisagem de territórios – sugere.
Para o diretor-executivo de Pesquisa e Inovação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Clenio Pillon, mesmo com um conjunto de tecnologias consolidadas, apenas isso não dará fim à crise climática. Em paralelo, é necessário uma integração de políticas públicas que possam, por exemplo, retomar processos de gestão das bacias hidrográficas.
Pillon reforçou que a ciência brasileira é uma grande fortaleza e o Rio Grande do Sul possui uma rica densidade institucional, com quatro unidades da Embrapa, inúmeras universidades federais e institutos de ciência, tecnologia e inovação.
– Temos que estabelecer uma nova governança para que todos coloquem o seu melhor em prol da recuperação do Estado. O agricultor necessita de acesso ao conhecimento e à tecnologia para que assim gere renda e continue no campo – pontua.
Ações sustentáveis
Ao final do debate, houve um momento para depoimentos de ações e envolvidos com a enchente. Como foi o caso do pequeno produtor Mauro Gilberto Soares, que mora na cidade de Cruzeiro do Sul e perdeu tudo o que tinha em sua propriedade. Ele tinha uma criação de porcos da raça moura, e mantinha uma preocupação frequente com o meio ambiente.
– A minha produção era ao ar livre, é uma técnica que todos podem fazer. Temos que nos preocupar com a natureza, deixar um legado – ressalta.
Além disso, foi apresentada a plataforma Produtores Gaúchos Unidos, pela idealizadora Aline Barilli Alves, que, de maneira gratuita, conecta produtores do Estado com compradores em todo o país. Outra participação foi do diretor-técnico do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-RS) Cláudio Rocha, que abordou o projeto SuperAção Agro Rio Grande do Sul, iniciativa de apoio aos produtores rurais afetados pela enchente.
– É um privilégio para a Fiat seguir apoiando o Campo em Debate e suas iniciativas e capacitação da agricultura familiar, que é uma parte fundamental da economia e da cultura do Rio Grande do Sul, em um momento de reconstrução. Investir em capacitação e inovação é essencial para garantir que a agricultura familiar continue a prosperar e a contribuir para as comunidades rurais – avalia Fabio Meira, vice-presidente de Vendas Diretas da Stellantis no Brasil.
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