Por que as maiores potências do mundo não conseguem parar uma guerra no Oriente Médio
Ao longo de quase um ano de guerra no Oriente Médio, as grandes potências se mostraram incapazes de parar ou mesmo influenciar significativamente os combates, um fracasso que reflete um mundo turbulento de autoridade descentralizada que parece provável de perdurar.
As negociações intermitentes entre Israel e Hamas para acabar com os combates na Faixa de Gaza, impulsionadas pelos Estados Unidos, foram repetidamente descritas pelo governo Biden como à beira de um avanço, apenas para falhar. A atual tentativa liderada pelo Ocidente de evitar uma guerra total entre Israel e Hezbollah no Líbano equivale a uma corrida para evitar o desastre. Suas chances de sucesso parecem profundamente incertas após a morte do líder de longa data do Hezbollah, Hassan Nasrallah, na sexta-feira (27).
“Há mais capacidade em mais mãos em um mundo onde as forças centrífugas são muito mais fortes do que as centralizadoras”, disse Richard Haass, presidente emérito da think tank americana Council on Foreign Relations. “O Oriente Médio é o principal estudo de caso dessa perigosa fragmentação.”
A morte de Nasrallah, líder do Hezbollah por mais de três décadas e o homem que construiu a organização xiita em uma das forças armadas não estatais mais poderosas do mundo, deixa um vácuo que o Hezbollah provavelmente levará muito tempo para preencher. É um grande golpe para o Irã, o principal apoiador do Hezbollah, que pode até desestabilizar a República Islâmica. Se uma guerra total chegará ao Líbano ainda é incerto.
“Nasrallah representava tudo para o Hezbollah, e o Hezbollah era o braço avançado do Irã”, disse Gilles Kepel, um dos principais especialistas franceses no Oriente Médio e autor de um livro sobre a turbulência mundial desde 7 de outubro. “Agora a República Islâmica está enfraquecida, talvez mortalmente, e nos perguntamos quem pode até mesmo dar uma ordem para o Hezbollah hoje.”
Por muitos anos, os Estados Unidos foram o único país que poderia exercer pressão construtiva tanto sobre Israel quanto sobre os estados árabes. Eles arquitetaram os Acordos de Camp David de 1978 que trouxeram paz entre Israel e Egito, e a paz entre Israel e Jordânia em 1994. Há pouco mais de três décadas, o primeiro-ministro Yitzhak Rabin de Israel e Yasser Arafat, presidente da Organização para a Libertação da Palestina, apertaram as mãos no gramado da Casa Branca em nome da paz, apenas para a frágil esperança desse abraço se erodir constantemente.
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